Os grandes textos conhecem-se pelo déjà vu
Heiner Müller, Descrição de uma leitura
Este é o dejá vu – este encontro com o passado ou passados – com os poemas, com os textos dos outros/ do passado – projectado agora em frente pela poesia de Rui Alberto.
Sobre esta noção de passado ocorrem-me as curiosas palavras de Jorge Luis Borges, e cito: “toda a linguagem é um alfabeto de símbolos cujo exercício supõe um passado que os interlocutores partilham”.
É também um exercício este livro, e nesta frase que repito - “toda a linguagem é um alfabeto de símbolos cujo exercício supõe um passado que os interlocutores partilham” – cabe também a noção de passado já vivido por todos, esse passado-mutante que permite uma re-criação, mais do que isso, que exige re-criação.
Lê-se na contra capa deste objecto artístico: “Chamemos movimento a este grande poema que, a cada passo dado, envolve o leitor nos seus próprios sentidos – da Primeira Vertigem ao Último Canto de Odisseu, caminhamos por entre um mundo (re-)criado por Rui Alberto, um mundo de imagens partilhadas com o leitor”. Leia-se neste “leitor” citado, aquilo que Borges identifica com “interlocutor”, isto é, “pessoa que toma parte de um diálogo”.
Este poema precisa de um diálogo – precisa de um Leitor. Precisa dele porque só assim poderá viajar, poderá ser “movimento”.
(excerto do texto apresentado na Biblioteca Púbica de Évora, no dia 02 de Junho de 2007, para Parabola Abyssus)